quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Misericordia XXIX, ou "Farinha Pouca Meu Pirão Primeiro".

Misericórdia XXIX. Cicero, Aristóteles, Platão, Montesquieu, etc, fazem chegar de suas tumbas, sussurros, ranger de dentes e chacoalhar de correntes, mostrando todo seu desagrado com a situação atual de nosso ERJ. Montesquieu então, está a dar urros de indignação. Nunca lhe passou pela ideia, que seu tão festejado principio da separação dos Poderes Republicanos, um dia fosse usado como argumento legal, mas totalmente imoral e insano, para raspar-se as últimas migalhas dos parcos dobrões de um tesouro público tão carente de recursos. Sim, no Estado do Rio de Janeiro, acaba de ser implantada a RMPP ( REPÚBLICA do MEU PIRÃO PRIMEIRO). Ressurgem os Reis, Imperadores, Duques, Barões, Condes e Viscondes, funcionários de primeira categoria. E a massa ignara, entre à qual estamos nós, os Consolidadores da República, segundo Floriano Peixoto, os Defensores Práticos da Cidadania, a última barreira entre a precária ordem e a barbárie dos fuzis, das granadas, dos bondes, dos arrastões. E nós ? Seriamos funcionários de terceira ou quarta categoria ?? ( obs- não é, "é nós", e sim, e nós ???), onde ficamos nisso tudo ??

Platão acaba de me mandar uma mensagem escrita, retiro seu selo e leio, ele informa em sua missiva, que seu espirito `a época, avisou a Maria Antonieta para que não mandasse de jeito nenhum, que o povo francês , como não tinha pão, pois a farinha especial era toda destinada ao nobres, comesse brioches, que a época eram feitos de sobra de grãos menos nutritivos. Deu no que deu, perdeu a cabecinha. Ao final de sua carta," relembra aos nobres do funcionalismo público do Estado do Rio de Janeiro que, a exemplo de Maria Antonieta, eles também podem ter suas cabeças cortadas pelos revolucionários homens de bronze e de prata , os quais com fome,  podem não mais acatar as ordens dos homens de ouro. Assim iniciaram-se a maioria das revoluções no mundo, pelo estômago. E o estômago do PM está totalmente vazio. Nem sua histórica e simbólica cesta de natal que recebe há mais de 50 anos, ele, o PM, viu sequer a sua silhueta este ano".
Assim, bruscamente, termina a carta de Platão. E eu lhe digo emocionado, obrigado Mestre, quem avisa amigo é.

Deixem pelo menos o Governador tentar consertar o que está errado há cerca de 9 anos. E já que ele não consegue distribuir renda, pelo menos que se distribua com equidade e equanimidade,  o pão, entre o tão sofrido funcionalismo público civil e militar do nosso  tão combalido Estado, outrora segunda arrecadação do Pais. Lamentável, extremamente lamentável. Seelvvva !!!!
 
 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

As marcas do Ten PM Licildo Amiche Tebaldi, um profissional de Policia.

Nos deixou ontem ( 16/12/15) o Ten PM Licildo  Amiche Tebaldi, o nosso Ten Amiche.
Corria o ano de 1983, era Dezembro, havia acabado de cursar  o CAO ( Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais) que habilita o Capitão  a promoção de Major.

Em rápida conversa de patio, recebi do Maj PM Évio,  o convite para ser seu Sub Cmt na Unidade de Queimados, então 2ª Cia Independente de Policia Militar. Aceitei de pronto e lá  fui cumprir minha missão.

Fiquei pouco tempo. Como havia, por deficiência de efetivo, acumulado com a função de P/4 ( Seção do Estado Maior que cuida da logística), alguns probleminhas começaram a surgir. Entre eles o fato de eu prender por fraude na entrega de mercadoria,  e apresentar na DP  local, a 52ª,  o fornecedor de carne para a Unidade. Após promover sucessivas  comunicações a DGAL ( Diretoria Geral de Apoio Logístico), tendo em vista que o açougue teimava em cometer ilícitos, aquele   fornecedor veio a ser considerado inabilitado para fornecer para toda a PM. Como ele atendia a  totalidade  das Unidades da Baixada a época, infelizmente teve que fechar as portas.

Pouquíssimo tempo depois recebi do Escalão Superior  a meritória distinção de me apresentar ao então DESIPE para assumir a Direção do Instituto Penal Candido Mendes, a então  famosa Cadeia da Ilha Grande. Foi assim que conheci o então , já lendário, Sargento Amiche, Chefe da Secão de Segurança do Presidio.

Ainda não contarei  aqui todas as nossas historias profissionais,  juntos vividas naquela longínqua Ilha, pretendo fazê-lo em publicação futura, mas, no momento pretendo   apenas mostrar algumas facetas de seu comportamento ,  que evidenciarão algumas marcas de seu caráter.

Em meu primeiro dia na Ilha, Amiche procurou-me e colocou seu cargo à disposição, alegando que o fazia para que eu pudesse trazer e formar minha equipe. Falava rápido, na posição de sentido, olhar fixo no interlocutor,  sua inseparável varinha de comando junto ao corpo, vez ou outra cofiava o negro bigode, já carente de apara.
Perguntei a ele se havia visto alguém comigo ao descer no atracadouro do Abrãao. Estava só, vinha de um ano de curso e alguns meses de unidade nova, portanto carente de equipe, ainda mais para missão altamente espinhosa em território inóspito em meio ao Oceano Atlântico. Além do mais , entre o recebimento da missão e meu desembarque na Ilha haviam se passado apenas dois dias.  Sua primeira reação, após arregalar os olhos e cofiar seguidas vezes o bigode foi perguntar: o senhor aceitou essa missão sozinho, sem nada nem ninguém junto ou na retaguarda? Ao ouvir meu sim , senti que ali estava nascendo uma eterna amizade, temperada por admiração e respeito mútuo. Ficou comigo,  e foi meu principal auxiliar durante os dois longos anos que  dirigi a  "Ilha do Diabo".

Logo no inicio senti o efeito e a razão de sua inconteste liderança junto aos funcionários e principalmente a massa carcerária.  À época , tínhamos que administrar a vida e a morte de  cerca de 1000 custodiados, ora 1200, ora 800. Essa era a flutuação do efetivo carcerário.

Imprescindível dizer que a missão direta do Chefe da Segurança do IPCM ( Instituto Penal Cândido Mendes) era altamente complexa, era missão apenas para os fortes, e ele o foi, isso , em razão de algumas situações enumeradas abaixo :

1. O fenômeno das facções estava em seu momento áureo. O Comando Vermelho ( CV) ,  e o Terceiro Comando (TC), inimigos de morte, ambos originados naquela Cadeia, filhotes da Falange Vermelha,  forçosamente coabitavam  nas semi destruídas instalações locais. Seus vários expoentes , Escadinha, Bagulhão, Ricardo Duran, Sergio Mendonça, Gregorio, Portuguesinho, William, Jorge Zambi, Carlão, Japonez, etc, exerciam suas atividades com total vigor e "competência ". Some-se a isso o fato de que a direção do Sistema usava a Ilha Grande como uma estratégica válvula de escape para todo e qualquer preso violento e a principio irrecuperável.

2. As instalações da Cadeia, em razão de sucessivos levantes / revoltas  e a ausência do Estados na sua recuperação,  estavam totalmente inadequadas (destruídas ) para  missão de " Segurança Máxima". Basta dizer apenas que foi a nossa administração  quem  colocou a energia elétrica puxada do continente. Bom lembrar que em pleno ano de 1984, por seguidas vezes o confere dos presos foi feito à  luz de vela, pequenas lanternas e faróis de Jipe, ligados no Corpo da Guarda,  durante intermináveis minutos/horas. Isso porque , a usina elétrica construída na década de 40, por presos alemães, usando a força de dois riachos locais, por total falta de manutenção,  já não conseguia gerar 10% de sua capacidade original.
Bom registar também que nessa época através de supervisão direta do Sgt Amiche conseguimos elevar todo o perímetro da cadeia para muros de 4 metros de altura com passarelas e guaritas novas em toda sua extensão.

3. As refeições eram feitas com muita dificuldade. Imagine confeccionar diariamente mais de 1000 refeições, 4 ou  5 vezes por dia ( café da manhã, almoço, lanche, jantar, ceia) , com gêneros vindo do continente e a preparação feita pelos próprios presos, em instalações semi destruídas. Isso em uma época que uma episódica   falta de alho ou cebola no tempero, ou a ausência de um simples pedaço de goiabada, ás vezes eram passíveis de originar um " berimbolo"  ( revolta) na Cadeia.  Se não houvera a fiscalização direta e diuturna do Sgt Amiche  teria sido impossível.

4. Medico, Dentista, Assistente Social, Assistência Jurídica, havia, mercê de alguns abnegados como o Dr Milton Meneses. Mas suas visitas eram raras e superficiais. De forma alguma tinham condições de atenderem às necessidades diuturnas  do "Caldeirão do Diabo", conforme era chamada a cadeia da Ilha Grande. Nesse espaço vazio, quantas e quantas  vezes o Sgt Amiche teve decisiva atuação, ora como conselheiro, ora receitando remédios caseiros, ora usando o boticão da cadeia em emergências odontológicas, ora sugerindo a descida de presos com problemas jurídicos graves  ao continente.

5.  Por ocasião de fugas, virava um perdigueiro. Sabia como ninguém preparar e coordenar as ações das volantes de captura. Não aceitava covardia nem uso de força desproporcional contra seus presos. Seu bondoso coração , que prematuramente  o levou, não permitia isso. Mas era inflexível  com a aplicação dos Regulamentos  Militares e Penitenciários, além de ser exímio atirador.

6. Era um eterno  teste para administrar  miséria. Não havia nenhuma destinação orçamentaria para as mínimas e comezinhas  necessidades  de um complexo daquela  natureza. O único  recurso que, mês após mês, anos após ano, nos permitia comprar um vidro de mertiolate, 1/2 quilo de prego ou algumas lâmpadas ou  pilhas para lanternas dos Guardas, era oriundo da venda de peixes que  pescávamos através de métodos medievais,  por guarnições de guardas e presos, na Praia de Dois Rios,  onde era situado o complexo penitenciário. Normalmente, ás 4/  5  horas da manhã,  na saída das canoas, lá estava o  Sgt Amiche.

7. Não havia comunicação. Nem telefone ( fixo ou celular) , nem rádio, nem telex, nada. Nossa única comunicação com o continente era o telégrafo sem fio ( código morse), que ficava imprestável, por quase durante todo o tempo, por razões atmosféricas. O Sgt Amiche compensava essa falta de comunicação local,  através de sua presença física. Era quase onipresente.

Cadeia de Segurança Máxima como??  Com que recursos ?? Onde estavam os meios que permitiriam atingir os fins de uma Cadeia de Segurança Máxima  ??  Mas era ali que reinava, em meio ao caos , com sua competência, constância, lealdade, bravura física e moral, , integridade,  amor a sua corporação PM e liderança, o Chefe de Segurança do IPCM, o incorruptível e inesquecível Sargento Licildo AMICHE Tebaldi.

Obrigado caro amigo, vá com Deus, suas marcas ficarão para sempre insculpidas na memoria das pessoas de bem.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Tempos dificeis...

Aceitar nunca, mas consigo ver e até entender o que está acontecendo neste difícil momento de não pagamento do soldo da Tropa, afinal o Pais  e seu entes federativos passam por crise "nunca dantes vista" em época  alguma. Não me perguntem por que, é só ler os OCS, afinal conseguiram, após um, esforço inaudito, continuado e com determinação "digna de elogio",  falir a oitava economia do mundo. Já havia passado por algo parecido, como Tenente,   antes da fusão, quando as pobres finanças do antigo Estado do Rio de Janeiro empurravam o pagamento do salário por dois, às vezes até três ou quatro meses com atraso, tendo algumas vezes,  alguns mais voluntariosos atacado " pontos de bicho" indiscriminadamente, no afã de chamarem a atenção dos governantes para essa desídia governamental.

A partir de 1975 porém, com nossa absorção pela Guanabara, Cidade Estado rica , tal fato não mais se repetiu, a não ser nos períodos de descalabro inflacionário, onde calendários  de pagamento de salários foram mudados, algumas vezes  ao bel prazer de Governadores, mas nunca  deixaram de pagar a Tropa fardada e armada

Mas o que não consigo entender e não  aceitar  em nenhuma situação, é o retorno dos títulos nobiliárquicos, em pleno regime republicano . Se o cajado tem que se abater com o máximo vigor que a situação requer, que o faça no entanto sobre a cabeça de todos , sem nenhuma distinção,  sem nenhuma instituição de castas e privilégios.   Por que o nobre Poder Judiciário, o MP, a Defensoria, o Poder Legislativo, etc, ficaram de fora do tratamento de choque? Seriam funcionários públicos de primeira categoria, e consequentemente nós, de terceira ou quarta. Não,  nas Constituições,  nem Federal, nem Estadual não existe essa distinção. Então é decisão  discricionária   do Governante. E isso está totalmente errado, em um caso de crise como a que estamos vivendo,  mais  do que nunca, necessita-se da equanimidade,    " O pau que der em Chico tem que dar também em Francisco", do contrário estar-se-á abrindo exceções  para problemas seríssimos no campo da ordem pública, tanto interna como exógena. 

O peito e o estômago da Tropa, homens de prata e alguns  de bronze, podem de repente  intuir que a insigne Cientista Politica  Silvia Ramos, Diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania  da Universidade Candido Mendes,  estaria correta  em sua infeliz opinião, postada no Jornal O Dia de ontem ( 1º/ 12/ 2015), pag 03, na qual alardeia que :  "Há graves problemas estruturais na cadeia de comando da PM. As bases não mais respondem às mudanças nos comandos. A PM se tornou ingovernável ". E com ela, a Dra. Silvia,  está também de pleno acordo o Diretor Executivo da Anistia Internacional, Atila Roque,  quando diz na mesma matéria  : " Como é possível esperar coerência nas politicas de segurança, quando, a cada ano,  as sucessivas trocas impedem a conclusão de um ciclo de gestão ? Causa perplexidade. "

Historicamente, bom ressaltar que não se deve brincar com homens fardados e armados, profundos conhecedores e eternos aplicadores  do sentimento  do dever.

Viva PM !!! Selllvaaa !!!